terça-feira, 25 de abril de 2017

Os primeiros 20 dias de Cecília






Por Jaqueline B. Ramos*


A chimpanzé Cecília, de 20 anos, chegou no dia 5 de abril ao Santuário de Grandes Primatas de Sorocaba, São Paulo, afiliado ao Projeto GAP, depois de dois dias de uma viagem que começou em Mendoza, na Argentina, onde vivia sozinha em uma jaula de cimento no zoológico da cidade e exposta ao público.

A história de Cecília seria mais uma de um grande primata resgatado de situação de maus tratos e levado para um santuário para viver com seus iguais, não fosse o marco que sua transferência representa: ela foi a primeira chimpanzé do mundo a ser libertada de uma situação inadequada de cativeiro pelo recurso legal do Habeas Corpus, um instrumento até então usado apenas para pessoas humanas. Cecília é a primeira pessoa não humana a ter a chance de usufruir o direito de liberdade em um santuário. E esta conquista foi comemorada mundialmente.

Pablo Buompadre, presidente da “Associação dos Advogados e Profissionais pelos direitos dos animais (AFADA), organização da Argentina que conduziu o processo do Habeas Corpus, diz que o caso de Cecília colocou abaixo o muro que existia entre as leis dos humanos e não-humanos, que definia animais como não detentores de direitos.

“A Juíza Alejandra Mauricio demonstrou com esta decisão valente e corajosa que a interpretação da lei é dinâmica, não estática, que deve se adaptar às mudanças sociais do desenvolvimento histórico, uma vez que não é uma questão de dar direitos dos animais possuídos por seres humanos, mas de aceitar e entender, de uma vez por todas, que eles são seres sencientes vivos, que são sujeitos de direitos”, aponta Pablo, que irá ao santuário brasileiro no próximo dia 29 para ver Cecília em sua nova casa.

Hoje, 20 dias após sua chegada ao santuário, Cecília felizmente está muito bem. Aos poucos vai se adaptando a nova vida, que significa pisar na grama, ter espaço para correr, ter a oportunidade de conviver com outros chimpanzés e não ser obrigada a ficar exposta como um objeto de visitação e entretenimento.


“A equipe do santuário tem que ter muita atenção e paciência, porque ela viveu toda a sua vida numa gaiola de concreto, a poucos metros do público e a realidade que ela vivenciou é muito limitada. Ela tem medo do barulho de motores e tratores, por exemplo, e tem medo de ser levada de volta para o seu velho cativeiro”, explica Dr. Pedro Ynterian, secretário geral do Projeto GAP Internacional e proprietário do Santuário de Sorocaba. “Agora, nos primeiros dias, nós queremos que ela conheça e passe a confiar nos humanos do santuário – as veterinárias e tratadores – e também estamos enriquecendo sua alimentação com mais itens proteicos.”


* Jornalista ambiental / Gerente de Comunicação do Projeto GAP Internacional

Nenhum comentário:

Postar um comentário